O agronegócio brasileiro, com safras recordes e expansão significativa nas últimas décadas, consolidou-se como o principal motor da economia, respondendo por 22% do PIB em 2024 e empregando cerca de 30 milhões de pessoas. Seu crescimento é inegável, assim como sua importância estratégica para o país. No entanto, a atual crise no setor revela que os problemas não surgem apenas em momentos de dificuldade, mas sim nos períodos de euforia. É durante as fases de bonança que os erros mais críticos são cometidos, quando a busca por crescimento e expansão leva muitos produtores rurais a assumirem dívidas excessivas e quando o mercado se inverte, as consequências financeiras tornam-se inevitáveis.
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Por natureza, o agronegócio é cíclico e altamente sensível a fatores externos, como variações climáticas, flutuações de preços e mudanças políticas. Durante os chamados “superciclos”, quando os preços das commodities atingem patamares elevados, o crédito torna-se abundante e os juros, baixos. Esse cenário favorece investimentos em tecnologia, valorização de terras e aumento da produtividade, criando uma ilusão de estabilidade e crescimento perpétuo. No entanto, essa fase de prosperidade é efêmera.
Nesses períodos, impulsionados pelo otimismo e pela característica empreendedora do setor, muitos produtores relaxam na gestão financeira, contraem dívidas excessivas e realizam investimentos sem o devido planejamento. O custo de produção aumenta, e quando as parcelas dos empréstimos vencem, os preços das commodities já não são os mesmos. O fim do ciclo positivo expõe as fragilidades: margens reduzidas, juros elevados, crédito escasso e câmbio instável formam um cenário desafiador. É quando os produtores e empreenderes do setor descobrem que a atividade não é estável o quanto parecia.
As decisões tomadas durante a bonança são determinantes. Aqueles que optaram por um crescimento controlado e planejado sofrem menos impactos, enquanto os que investiram de forma mais agressiva enfrentam dificuldades significativas.
A chave para navegar pelos ciclos do agronegócio não está apenas em cortar custos durante as crises, mas em adotar uma postura disciplinada nos períodos de alta. Isso inclui evitar endividamento excessivo, investir de forma estratégica e constituir reservas financeiras para os momentos de baixa.
A crise atual no setor evidencia que investimentos são inevitáveis, mas devem ser realizados com base em um planejamento estruturado, considerando cenários adversos. A disciplina financeira, mesmo em tempos de alta rentabilidade, é essencial para garantir a sustentabilidade dos negócios. Além disso, o uso de ferramentas jurídicas e financeiras, como contratos futuros e opções, podem mitigar os riscos associados às oscilações de preços. Esses instrumentos oferecem maior previsibilidade e estabilidade, sendo um diferencial em um setor tão volátil.
Do ponto de vista jurídico, é fundamental que os produtores e empresas do agronegócio estejam amparados por contratos bem elaborados, que prevejam cláusulas de ajuste em cenários de volatilidade, além de mecanismos de proteção contra riscos climáticos e de mercado.
O governo também tem um papel crucial no apoio ao setor. A oferta de crédito subsidiado, seguindo o modelo adotado em países desenvolvidos, pode facilitar o acesso a recursos para investimentos. Além disso, a abertura de novos mercados internacionais, por meio de acordos comerciais e diplomacia econômica, pode diversificar as exportações e fortalecer a presença dos produtos brasileiros no exterior. Essas medidas não apenas impulsionariam a competitividade do agronegócio, mas também contribuiriam para a redução dos preços dos alimentos, beneficiando toda a cadeia produtiva e os consumidores.
O agronegócio brasileiro continuará a enfrentar ciclos de alta e baixa. A diferença entre os que prosperam e os que sucumbem, não reside apenas na capacidade de cortar custos durante as crises, mas na habilidade de gerenciar com prudência os períodos de bonança. Aqueles que entendem que um mercado favorável pode mascarar problemas estruturais estarão melhor preparados para enfrentar os desafios futuros.
A questão central que todo produtor e empreendedor do setor deve considerar em períodos de prosperidade não é apenas a obtenção de lucro, mas a viabilidade de seu negócio em um cenário adverso. A verdadeira força do agronegócio reside na capacidade de adaptação e resiliência frente às dificuldades. A combinação de um planejamento estratégico eficaz e gestão disciplinada é fundamental para assegurar a sustentabilidade e o sucesso a longo prazo.
Hidekazu Souza de Oliveira é advogado especialista em direito agrário e ambiental
@hidekazu.adv
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