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Artigo: Quando os muros nos tornam menores que a cidade (Alex Andrew Presidente da juventude do partido NOVO-TO)

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Os muros sempre foram um problema sério para as cidades, sobretudo na América Latina, e, no Brasil, se tornaram quase uma obsessão. Altos, cada vez mais altos, erguidos como se fossem barreiras contra todos os males da vida urbana. Mas será mesmo? Se observarmos com atenção, o muro não é apenas um elemento físico, ele é também sintoma de uma doença social, de uma lógica que isola, segrega e retira vida das ruas.

Um muro não impacta só a estética da cidade. Ele gera custos, e altos. Custos de mobilidade, de segurança, de economia urbana. Impede a circulação, aumenta distâncias, estrangula a vitalidade dos bairros. Certa vez, sentado em frente a um hospital público de Palmas, percebi como as grades e cercamentos, sob a justificativa de proteger carros estacionados, acabam punindo pedestres, que já enfrentam longas distâncias e, por conta dessas barreiras, não podem sequer cortar caminho. É o que chamo de crueldade urbana, quando a forma de proteger alguns acaba sacrificando muitos.

Essa realidade não é nova. Jane Jacobs, nos anos 1960, já alertava que muros, recuos e o isolamento dos edifícios geram ruas mais inseguras, ao contrário do que prometem. Outros teóricos do urbanismo confirmaram, uma cidade murada é uma cidade cara, ineficiente e perigosa. O muro vende a ilusão da segurança, mas entrega abandono. Não por acaso em uma pesquisa da PM do Paraná, publicada na Gazeta do Povo em 2007, apontou que 71% dos criminosos entrevistados preferiam casas com muros altos, pois estes proporcionam mais segurança e anonimato após a invasão do imóvel.

E se cobrássemos o preço real desse atraso? O economista Vitor Meira França, em um texto certeiro, provocou: por que não criar um imposto sobre os muros dos condomínios? Uma “taxa do muro”, cujo valor arrecadado pudesse ser revertido em melhorias urbanas para quem é obrigado a caminhar em ruas desertas, sem a vigilância dos famosos “olhos da rua”? A ironia é que, se desse certo, os moradores talvez corressem para derrubar seus muros, o que, nesse caso, seria o melhor desfecho possível.

Porque, sejamos francos, muros não são apenas concreto, mas metáforas de uma mentalidade. Ao erguer muros, construímos fortalezas medievais no coração das cidades contemporâneas, como se ainda vivêssemos sob ameaça constante de invasões bárbaras. Mas, na maioria dos bairros murados, a violência não é maior que em outras áreas. O que há é paranoia, preguiça arquitetônica e desprezo pela vida coletiva.

Até quando vamos tolerar cidades que se fecham em si mesmas? Até quando aceitaremos pagar, como sociedade, o preço dos muros, na forma de ruas feias, inseguras, sem vitalidade e hostis a quem anda a pé? Talvez seja hora de inverter a lógica, quem quiser se trancar atrás de grades e paredes que arque, ao menos, com os custos sociais de sua escolha. Afinal, a cidade é de todos.

Alex Andrew

Presidente da juventude do partido NOVO-TO

Coordenador do projeto sextas na cidade

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