“Presidentes vivos: Lula, Bolsonaro, Collor e Temer enfrentam processos e prisões; FHC é o único ficha limpa”
A história recente da política brasileira é marcada por escândalos, denúncias, prisões e reviravoltas judiciais envolvendo ex-presidentes da República. Dos nomes que comandaram o país desde a redemocratização, praticamente todos, com uma única exceção, enfrentaram as consequências — políticas ou penais — de suas ações durante ou após o exercício do poder.
Fernando Collor de Mello foi o primeiro a cair. Eleito em 1989 como o “caçador de marajás”, teve o mandato interrompido por um processo de impeachment em 1992, acusado de corrupção e má gestão. Décadas depois, em 2023, se tornou o primeiro ex-presidente condenado criminalmente pelo Supremo Tribunal Federal (STF), recebendo uma pena de 8 anos e 10 meses por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Luiz Inácio Lula da Silva, presidente entre 2003 e 2010, foi condenado em 2017 no caso do tríplex do Guarujá, no âmbito da Lava Jato. Chegou a ser preso em 2018 e ficou 580 dias detido, até ter suas condenações anuladas pelo STF, sob o argumento de que o juiz responsável pelo caso, Sérgio Moro, agiu com parcialidade. Mesmo retornando à presidência em 2022, a passagem de Lula pela prisão é um marco divisivo em sua trajetória.
Michel Temer, vice que assumiu a presidência após o impeachment de Dilma Rousseff, também enfrentou a Justiça. Foi preso preventivamente em 2019, acusado de chefiar um esquema de corrupção ligado a contratos públicos. Embora a prisão tenha durado poucos dias, o episódio consolidou sua imagem de figura envolvida em práticas típicas da chamada “velha política”.
Agora, Jair Bolsonaro é o novo nome a se juntar a essa lista. Em agosto de 2025, o ex-presidente foi alvo de mandado de prisão domiciliar preventiva, acusado de liderar uma organização criminosa com o objetivo de dar um golpe de Estado para impedir a posse do presidente eleito em 2022. A investigação da Polícia Federal aponta participação de militares e civis em uma tentativa deliberada de subverter a ordem democrática.
Diante desse cenário sombrio, há uma única exceção notável: Fernando Henrique Cardoso. Presidente entre 1995 e 2002, FHC é hoje o único ex-presidente vivo que não foi alvo de impeachment, não foi preso, não sofreu denúncias criminais e sequer foi formalmente investigado. Ainda que tenha sido criticado politicamente durante seu governo — principalmente por privatizações e políticas econômicas —, jamais foi envolvido em escândalos de corrupção ou em ações que comprometesse sua integridade legal.
A sua trajetória contrasta fortemente com a dos demais e serve como um raro exemplo de estabilidade institucional em meio a uma sucessão de crises éticas e jurídicas que atingiram quase todos os ocupantes do cargo mais alto da República.
O caso brasileiro é praticamente único entre democracias relevantes: quatro ex-presidentes com passagens pela cadeia, condenações ou acusações graves em menos de três décadas. A exceção, nesse contexto, diz muito mais do que a regra. FHC, ao que tudo indica, permanece como o último presidente ileso — um ponto fora da curva em um sistema político onde o poder, muitas vezes, se confunde com impunidade, vaidade e desrespeito à lei.
Em meio à instabilidade, resta a lição: não deveria ser exceção um presidente sair limpo do cargo. Deveria ser a regra.
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