Após um final de semana de tensão generalizada pelo Afeganistão, o movimento fundamentalista islâmico nacionalista Talibã conseguiu retomar o controle da capital do país, Cabul.
Enquanto avança rapidamente seu controle pelo país, o Talibã já coloca em prática sua agenda fundamentalista, que vigorou no país entre o final dos anos 90 e o início dos anos 2000. De acordo com o portal local de notícias Shamshad News, a vacinação já foi interrompida na província de Paktia, no leste do país. Desde a tomada da província pelo grupo, as vacinas contra a covid-19 pararam de ser distribuídas pela região.
Walayat Khan Ahmadzai, diretor provincial de saúde pública da região, disse em entrevista ao Shamshad News que o Talibã ordenou os funcionários do hospital regional para pararem de distribuir o imunizante, o que resultou no fechamento imediato dos postos de vacinação da região, enquanto médicos e críticos buscam acatar as ordens impostas temendo represálias violentas do grupo.
De acordo com Ahmadzai, a enfermaria responsável pela aplicação das doses está fechada há três dias e os cidadãos são informados de que a vacinação foi proibida. O Talibã alertou a equipe de distribuição de vacinas para evitar distribuí-las, acrescentou Ahmadzai. Até o momento, não há informações concretas sobre como está a campanha de vacinação no resto do país.
Segundo dados do portal Our World in Data, o Afeganistão aplicou, até o momento, cerca de 770 mil doses da vacina contra a covid-19, o que representa cerca de 2% da população e apenas 0,5% da população do país completou a vacinação.
Talibã já foi a favor das vacinas
No final de janeiro de 2021, enquanto o grupo ainda estava longe de controlar as principais províncias e cidades do país, o Talibã se mostrava “a favor” da vacinação.
Zabihullah Mujahid, porta-voz do grupo extremista, disse à agência Reuters no fim daquele mês que o grupo iria apoiar e facilitar a campanha de vacinação conduzida por meio dos centros de saúde no país.
O país fechou um acordo de cerca de 110 milhões de dólares para conseguir as doses por meio do consórcio Covax, da Organização Mundial da Saúde (OMS). O Afeganistão também havia fechado um acordo de 500 mil doses da vacina da AstraZeneca produzida na Índia, disse à Reuters o dr. Ghulam Dastagir Nazari, chefe do Programa Expandido de Imunização do Ministério da Saúde do Afeganistão.
“A marca AstraZeneca que é fabricada na Índia chegará em breve ao Afeganistão”, disse Nazari.
Com a queda do governo central e, consequentemente, do seu grupo de ministros de estado, não é possível afirmar se as promessas anteriores sobre as vacinas ainda serão mantidas.
Entretanto, com a recente atualização de que a junta extremista está dificultando a campanha de vacinação no país, é difícil esperar que o Afeganistão tenha capacidade de acelerar sua campanha de imunização.
Desde o início da pandemia, o Afeganistão já contabilizou cerca de 150 mil casos de covid-19 e aproximadamente 7 mil mortes.