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Repercussão: com Lula na disputa, Bolsonaro fortalece ou enfraquece?

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Entre os analistas políticos, a anulação das condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em decisão tomada nesta segunda, dia 8, pelo ministro Edson Fachin, do STF, coloca o ex-presidente de novo no páreo para as eleições de 2022. A questão que surge é: isso favorece ou atrapalha a reeleição do presidente Jair Bolsonaro?

“O Supremo não deixa de olhar o cenário político para tomar decisões”, avalia o cientista político Sérgio Praça, da Fundação Getúlio Vargas (FGV). “A pergunta agora é se a decisão de Fachin pode aliviar a imagem de Lula ligada ao histórico de corrupção do PT”.

Para Maurício Moura, fundador do IDEIA, instituto especializado em pesquisa de opinião pública, a anulação das condenações de Lula gera três efeitos. O primeiro é que aumenta a polarização para as eleições de 2022, agora com dois favoritos: Bolsonaro e Lula.

“Em segundo lugar, a medida favorece o bolsonarismo. Ao invés de ser uma avaliação do governo Bolsonaro, um referendo sobre o trabalho do atual presidente, cria uma eleição sobre se o país quer o PT novamente no poder”, diz Moura.

Por fim, o episódio coloca uma grande dúvida sobre a viabilidade de uma candidatura de Centro. “Se já era difícil, agora fica quase impossível, com risco de ser uma candidatura nanica.”

Quem ganha e quem perde

A perspectiva política, com a anulação das condenações do ex-presidente pela 13ª Vara Federal de Curitiba, é de mais polarização no cenário geral e dentro da esquerda. Com o maior antagonista de volta à arena, o presidente Jair Bolsonaro tende a endurecer o tom nos discursos antipetistas e radicais.

No Twitter, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou que “sua maior dúvida” sobre a decisão do ministro é se ela foi “para absolver Lula ou Moro”. Para o deputado, “Lula pode até merecer a absolvição. Moro, jamais!”. A reação não foi a de ataque ao ex-presidente, no sentido esperado de um verdadeiro aliado de Bolsonaro, observa a doutora em ciência política Carolina Botelho, pesquisadora no SCNLab/Mackenzie e Doxa/Iesp/UERJ.

Na visão de Botelho, Lira aliviou para Lula e cobrou a condenação de Moro, apesar de ter sido eleito para a presidência da Câmara com o apoio de Bolsonaro. “É uma postagem muito importante. Dá a entender que o Lira do Centrão é um cara que digere Lula muito bem. Sabe que, se precisar, vai fazer aliança”, avalia a especialista.

Lira se antecipa a uma situação que pode trazer novamente um embate PT versus Bolsonaro. Mas, dessa vez, não é como em 2018, afirma Botelho. “No caso atual, é Lula mesmo, com todo capital político, experiência, mas também com todos os problemas que envolvem o nome dele. Existe uma militância muito forte, mas também há uma rejeição enorme”, lembra.

Na opinião de Botelho, as chances de que Bolsonaro caia em 2022 aumentam se Lula surgir como candidato com um direcionamento mais pró-reformas e a favor do diálogo político. “Se vier com a roupagem de 1989, não tem chances. Nesse caso, Bolsonaro leva. Mas, se defender reformas, revisão de algumas coisas no Estado, pode prosperar”, acredita.

Com o acirramento da polarização, partidos de centro e a ideia de uma “frente de esquerda” podem perder espaço nessa nova configuração. Ciro Gomes e Luciano Huck, por exemplo, são nomes que correm o risco de enfraquecer. “A situação atual pode acabar fragmentando mais a esquerda e os partidos de centro, mas ainda é cedo para dizer. Em um cenário entre Bolsonaro e Lula, fica difícil saber como o centro se comportaria”, diz Botelho.

Se, por um lado, Bolsonaro sai perdendo, por ver ressurgir com chances reais a figura do principal inimigo político, por outro, o presidente pode ficar ainda mais forte entre a parcela da população antipetista. “O inimigo número 1 do bolsonarismo é o petismo. Ele se criou em cima disso. A decisão pode dar um gás a Bolsonaro, por permitir que ele exerça mais a natureza de polarizar. Vai ter a figura do Lula no horizonte como ameaça para a base dele”, explica.

Lula e a Lava-Jato

O ex-presidente foi alvo de mais de quatro acusações de corrupções, a maioria envolvendo supostas propinas pagas por construtoras como a Odebrecht e a OAS. A defesa de Lula alega que não há provas de mau uso do dinheiro público.

A anulação das condenações de Lula teve como ponto de partida justamente um pedido de habeas corpus feito pelos advogados do ex-presidente em novembro do ano passado e que dizia respeito a quatro processos, entre eles o do apartamento tríplex no Guarujá e do sítio de Atibaia. Fachin anulou as condenações do ex-presidente em relação às acusações de corrupção envolvendo esses imóveis, que teria sido adquirido por meio de propinas de construtoras como a Odebrecht e OAS.

A Operação Lava-Jato, responsável pelas ações contra Lula e outros políticos e empresários, começou a perder força pelo menos desde 2020. “O STF vinha tomando decisões que podiam indicar um esvaziamento da Lava-Jato e da atuação da vara de Curitiba”, diz o analista político André Cesar, da Hold Assessoria, de Brasília. “Fachin tomou uma decisão monocrática, que pode ir a plenário no STF, caso os ministros da Corte julguem assim necessário”.

Para alguns analistas, não chegou a ser uma surpresa. “Já estava no horizonte uma série de posicionamentos do Supremo que podiam indicar algo nesse sentido”, diz Cesar. “Agora, todos os olhos se voltam para a nova configuração que pode ter a eleição presidencial de 2022”.

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