Imunidade natural da covid-19 vai aumentar número de mortes
“Os casos do novo coronavírus estão diminuindo, mas não tem o menor sinal de que isso é uma tendência. As coisas podem se reverter, e se reverter forte”, afirmou o doutor em microbiologia e divulgador científico, Atila Iamarino, em entrevista à emissora de televisão brasileira GloboNews. Iamarino também acredita que uma segunda onda do vírus pode atingir o Brasil em breve, apesar de não poder afirmar o tempo certo em que isso deve acontecer. Em outros continentes que estão passando pelo outono neste momento, como na Europa, a segunda onda do vírus já está causando um aumento exponencial de casos — colocando, novamente, a teoria da imunidade natural em xeque.
Iamarino, crítico ferreno do conceito de imunidade de rebanho, está de acordo com outros cientistas que não acreditam que essa é a forma ideal de lidar com a covid-19. “Nenhuma cidade no mundo atingiu ainda o ponto cruel de ter tantas pessoas infectadas e curadas de que eles atingiram o nível de imunidade necessário. Nós estamos vendo leitos começando a faltar em Manaus, que foi uma das cidades mais atingidas no mundo. É sinal que não dá para contar com a imunidade natural, primeiro porque a gente perde muitas vidas no processo e isso pode tirar muitas vidas mais para a frente”, explica.
Para médico sanitarista Gonzalo Vecina Neto, ex-presidente da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), a estratégia da imunidade de rebanho não funciona no Brasil porque o sistema de saúde não teria capacidade para lidar com o grande número de internações que seriam necessárias para que o vírus parasse de circular.
O que é a imunidade de rebanho?
A teoria da imunidade consiste no efeito de proteção que surge nas pessoas quando grande parte se vacinou contra uma doença — assim, mesmo quem não tomou a vacina fica protegido. Muitos acreditam que o indivíduo, ao contrair a SARS-CoV-2, se torna imune a ela. Assim, quanto mais gente for infectada, maior a chance de todos se tornarem imunes. É daí que vem o termo “imunidade de rebanho”. Com ela, todos estariam protegidos. No caso da covid-19, fica difícil imaginar que a situação possa ser resolvida dessa forma, já que ainda não existe uma vacina.
Nenhum estudo comprovou ainda se a imunidade após o contágio do novo coronavírus realmente acontece e casos de reinfecção já foram confirmados em alguns lugares do mundo. Mesmo se acontecer, em outras variações do vírus (como a OC43 e a HKU1), as pessoas ficam imunes por um período determinado de tempo. A imunidade só dura até que surja uma nova cepa do vírus, uma vez que a mutação é inerente a ele. É o que nos faz pegar gripe mais de uma vez, por exemplo.