A chegada dessa onda de calor no Brasil central, possibilitou trazer à balha algumas reflexões necessárias perpassando por vários setores da sociedade.
Ao órgão oficial da Meteorologia Nacional, vale repensar o próprio monitoramento das variáveis meteorológicas em superfície, levando em consideração o fator da urbanização das cidades sobre as estações meteorológicas. O que já é uma realidade. Será que há influência nos valores mensurados?
A linguagem utilizada é a mais ideal?
Aproveitando o momento político, cabe também repensar os planos diretores das cidades, suas áreas verdes, a arborização das vias urbanas e das políticas municipais de meio ambiente.
Por que não, da própria Política Nacional de Proteção e Defesa Civil, quanto a implementação de programas perenes sobre a cultura do risco e da vulnerabilidade da pessoa humana, do meio ambiente, das inundações, das secas, das mudanças climáticas, de onde vivo, por onde trânsito, dos cuidados para com a nossa população mais idosa e dos recém nascidos e etc. Em especial, dos avisos e alertas quanto a unificação dos padrões, de protocolos e das competências.
Emitir simplesmente um alerta, parece ser uma atividade trivial, mas não o é.
Refletir também, quem receberá este alerta e como o interpretará?
Precisamos repensar (me preocupa como profissional da meteorologia) no objetivo principal destes? Em essência é alertar? Ok. Alerta Laranja e vermelho demostra uma gravidade de algo. Me pergunto, como isso ajuda a sociedade? Antes de tudo, a segurança da população em stricto sensu? Mas, devamos nos lembrar que não temos a cultura do risco enraizada nos brasileiros e acredito que esse “algo” obrigatoriamente, deverá ser explicado minimamente para evitar o pânico generalizado.
Argumento ainda, que a maioria da sociedade desconhece ou desconhecia a existência dessas ferramentas de comunicação dos órgãos oficiais de meteorologia com a população. E de repente, aparece na TV, no feed de notícias do app, o vizinho comenta, a mãe te liga. E tudo fica “mais” confuso, gera ceticismo e perplexidade na sociedade, que já se encontra assolada em meios a uma pandemia.
Ainda penso, que a abordagem precisa ser em princípio sistêmica, educativa e preventiva. Caso contrário, ao menos para mim, não servirá.
Caberá apenas nos trendings topics, tags e nas pautas dos telejornais e dos canais de youtubers sensacionalistas. Ouso afirmar que certamente, a temática sumirá ao longo dos dias com a chegada das chuvas e dos acontecimentos políticos do nosso dia-a-dia.
Julgo ser um momento oportuno para trabalhar de forma vertical, os mecanismos de avisos, alertas, mitigação, criação de plano de contingências, de protocolos, acolhimento e de atenção para a população.
E quais serão os desdobramentos em favor da sociedade? Espero que ninguém tenha chegado a óbito. E as avaliações e os questionamentos tão pertinentes, de como foram enviados os avisos e os alertas, quais os erros, exageros e corrigi-los, enfatizo, se houver.
Precisamos chamar atenção dos gestores e dos formuladores das políticas públicas, quanto a real necessidade de um entendimento muito maior das questões meteorológicas, dos desastres naturais e das mudanças climáticas.
Não podemos esquecer que no Brasil atual, se morre por frio, por raios, por queimadas, que anualmente, degradam o meio ambiente e agravam os casos relacionados aos problemas respiratórios, já influenciados pelos baixos índices de umidade relativa do ar, recorrentes.
Precisamos rever a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil.
No último mês de agosto, a onda de frio “histórica” frustrou boa parte da população brasileira, virou notícia, memes e burburinhos por dias. E depois, um longo e silencioso grito por parte de quem deveria garantir a correta informação e conter essa “onda” midiática, que mais atrapalha do que ajuda a sociedade.
E fica o questionamento, e se esta onda de calor permanecer?
O que será feito em termos de segurança e proteção à vida?
Estamos preparados para um problema generalizado ou caminharemos mais uma vez no fio da navalha?
Ademais, avisos e alertas são instrumentos sérios e não pano de fundo para autopromoção de pessoas e de empresas.
Para que a sociedade acredite em tais ferramentas, precisaremos mostrar mais responsabilidade e credibilidade da informação.